Ultimamente, em minhas participações na lista
radioescutas Yahoo, patrocinada pelo DXCB, o principal assunto sobre o qual
tenho recebido perguntas é o tal do balun que se utiliza nas antenas Long Wire,
o balun 9:1. Normalmente todo “eletrônico” tem mentalizado o princípio de
funcionamento de determinado dispositivo e necessita de uma consulta para
confirmação do circuito exato deste dispositivo.
No caso do balun 9:1, tenho pesquisado, lido e
falado tanto sobre ele que talvez nunca mais precise fazer uma consulta para
confirmar o seu circuito de confecção pois isso me fez decorar o famingerado
balun.
Neste artigo vou procurar eliminar os tabus que
existem à cerca deste artefato tão simples e tentar proporcionar meios a que
cada um possa confeccionar o seu através da utilização de materiais baratos e de
fácil aquisição no mercado ou nas sucatas. O presente artigo não se trata de uma
explanação técnica sobre este dispositivo, mas sim uma monografia escrita com a
finalidade de informar ao radio escuta sem experiência em eletrônica o que é
este balun e como poderá fazer um para sua utilização. Assim sendo evitarei ao
máximo utilizar terminologia técnica e recorrerei até a analogias para facilitar
a explicação.
O circuito do balun pode ser visto na figura 1 e
na figura 2 que é uma outra disposição do mesmo circuito somente para
ilustrar de modo mais exato o tipo de transformador de impedâncias que se
pretende montar:
QUAL A UTILIDADE DESTE BALUN ?
O Balun 9:1 utilizado nas antenas Long Wire tem
duas finalidades básicas que são: transformar a saída desbalanceada da antena
long Wire em uma saída balanceada que permita a conexão equilibrada de um cabo
coaxial à mesma pois as entradas dos receptores transistorizados digitais (ICOM,
SONY, etc ) são desbalanceadas. Para não enriquecer o artigo com vernacular
“tecniquês” vou definir estas saídas como: Desbalanceada é a que é feita com
cabo coaxial e balanceada é a que é feita com fio singelo.
A segunda função do balun 9:1 nesta antena é
realizar a transformação da impedância de alimentação da antena (onde se liga o
cabo) que é de um valor entre 400 e 500 ohms na mesma impedância de entrada dos
receptores que apresenta valores entre 50 e 75 Ohms.
Como a nomenclatura do tal balun demonstra, ele
divide por 9 a impedância apresentada na sua entrada de alta impedância; ou seja
se conectarmos a ele uma long Wire que tenha uma impedância de 450 Ohms ele
oferecerá ao receptor uma impedância de 50 Ohms realizando o casamento entre a
impedância de saída da antena e a impedância de entrada do radio.
Nesta atividade de casamento de impedância, a
péssima qualidade dos cabos coaxiais que encontramos no Brasil, sem exceção para
nenhum fabricante, faz com que tenhamos uma margem de erro muito grande nos
baluns. Por terem de exportar receptores para paises onde sabidamente serão
conectados a cabos coaxiais de impedância diferente da especificada, os
fabricantes já confeccionam a entrada destes receptores com uma faixa
larga de impedância. Com isso a confecção do balun torna-se muito menos crítica
do que seria se tivéssemos de faze-lo para condições de valores mais precisos.
OS MATERIAIS PARA VOCÊ CONSTRUIR O SEU BALUN 9:1
Já confeccionei estes baluns com o núcleo toroidal
específico determinado pelo ARRL Handbook , que é muito difícil se conseguir no
nosso comércio. A solução prática para isso eu apresento através das
experiências realizadas com outros núcleos pois já obtive resultados
praticamente iguais utilizando outro núcleo toroidal mais fácil de se conseguir
em fontes queimadas de computadores, núcleo de ferrite em barra (Ferrite de
antena de OM de receptores) e até ferrite de Fly-Back queimado de televisores.
No caso dos ferrites de Fly-Back, por variarem de tamanho em função das
diferentes marcas, achei que iriam apresentar comportamentos muito diferentes e
mesmo assim isso não ocorreu. Para cada tipo de núcleo utilizamos um número
diferente de espiras nas bobinas.
Quanto ao fio utilizado no enrolamento do balun,
já confeccionei utilizando fio para enrolamento de motores sendo que os de
número 18, 19 e 20 AWG como também o fio colorido de cabo telefônico são os
ideais.
A fiação do balun não é feita com as bobinas
enroladas paralelamente umas as outras, na realidade deve-se enrolar os fios das
três bobinas, formando uma “cordinha” com eles e será com esta “cordinha” que se
enrolará as bobinas. É importante marcar as extremidades de cada fio (A,B e C)
para poder se identificar cada bobina na hora de fazer as conexões entre elas,
mas se utilizar cabinho de cabo telefônico utilize de três cores diferentes.
BALUN COM NÚCLEO DE FERRITE EM BARRA
Pequenas variações nas dimensões da barra são
irrelevantes.
BALUN COM NÚCLEO TOROIDAL
Este núcleo pode ser facilmente conseguido em
oficinas de reparos de computadores pois ele pode ser retirado de fontes de
computadores que estejam queimadas. Normalmente são de cor amarela, mas existem
alguns fabricantes que deixam na cor natural do ferrite (Cinza grafite).
BALUN COM NÚCLEO DE FLY BACK DE TELEVISOR
Ao
final acondicione o balun em uma caixa plástica (saboneteira, tubo de Cebion,
recipiente de filme fotográfico, etc), vede bem para evitar umidade, com
silicone, Araldite, durepoxi, massa plástica ou fita de auto fusão, e ... ...
boas escutas.
Maricá - As
Benesses que um Espelho D’água Proporciona
Após participar do
Encontro com o pessoal da CRI no Rio de Janeiro, , no dia 20 de fevereiro
passado, á convite do amigo Sarmento Campos fui realizar algumas escutas
com ele em Maricá, o portal da região dos Lagos do Rio de Janeiro.
Realizamos escutas
maravilhosas no local, nos dias 20 e 21 de fevereiro, mas as escutas realizadas
no dia 22 me levaram a fazer uma observação e uma comprovação experimental que
acabou me surpreendendo pelo resultado apresentado.
No dia 22, acordei mais
tarde, em função do resfriado que tinha me desgastado na sexta e no sábado, mas
a noite de sono e as aspirinas tinha sido um santo remédio e me colocaram de pé
com excelente disposição física e com grande expectativa às escutas possíveis no
dia.
Após o café da manhã.,
conversando com o Sarmento Campos sobre as escutas que havia feito em OM no
local, ele me falou que certa vez, comunicou o Augusto Huertas, Diretor da
Radio Bandeirantes, que a emissora era ouvida em Marica, a qualquer hora
do dia com sintonia perfeita, em 840 KHz e recebeu incredulidade dele.
Saí daquela conversa,
pensando: Que mistério é este que proporciona escutas de emissoras em OM numa
distância superior ao que todas as teorias apresentam para o caso ?
Eu tinha lido um artigo
do Felipe L. G. Flosi, “Como escutar Papua Nova Guiné, numa boa”, no site
do DX Clube do Brasil ( www.ondascurtas.com
) , onde ele informa que esta escuta somente é possível no sudeste do Brasil,
durante o inverno e pela manhã e descreve uma série de experiências realizadas
sobre o caso e apresenta os resultados obtidos. Um excelente artigo baseado na
experimentação, o que lhe dá maior valor.
Mas acontece que eu tinha
ouvido a R. Western de Papua Nova Guiné, às 21:38 UTC do dia anterior ! E
para maior agravante, a escuta foi feita em 3.305 KHz... na verdade isso estava
registrado no display digital de meu SONY, mas a escuta foi feita utilizando um
desvio para a banda lateral Inferior, através do SSB do SONY 7600GR e o
Sarmento verificou no ICOM R-75 que a sintonia estava sendo feita em
3.305,85 ou seja quase 3.306 KHz. Uma freqüência muito baixa para ser captada em
tal distância visto que é um segmento que é absorvido pela camada “E” da
Ionosfera, não se permitindo á reflexão e ainda mais de uma sucessão de muitos
saltos até o meu receptor, saltos estes passíveis ainda de muito desvanecimento
nos diversos obstáculos físicos terrestres bem como nas diversas variações
climáticas que teria de atravessar. Considerando ainda que a emissora emite com
uma potência de 10 kW, valor muito baixo para transmissões internacionais,
o fato se apresentava mais improvável ainda.
Tecnicamente eu jamais
poderia ter ouvido aquela emissora , mas a realidade é que eu ouvi, e isso me
intrigou muito e me levou a pensar o seguinte:
Se eu conseguir definir
as condições que me levaram a fazer esta escuta, poderia encontrar uma maneira,
um processo bem detalhado de realizar muitas outras semelhantes e isso
poderia ser uma ferramenta útil a todos que desejassem fazer DXs como estes.
Lembrei-me que no dia 20,
quando o Sarmento fazia turismo comigo e o Valter pela cidade maravilhosa, em
determinado momento da conversa o Valter afirmou: “ O melhor momento para se
ouvir rádio é quando chove e não se apresentam descargas atmosféricas.”
A isso eu, acrescentei
que em conversa com o Caio já havia mencionado que costumava anotar os
valores da umidade relativa do ar, ás minhas anotações pessoais de escutas e com
base nisso tinha observado que quando o ar se apresenta com uma umidade
relativa mais alta fica mais propício a algumas escutas mais difíceis.
Bem, a minha primeira
impressão era que estas ondas tinham saído da emissora e chegado ao meu receptor
através da reflexão na ionosfera, mesmo que isso se apresentasse como muito
improvável, mas era a hipótese mais viável, visto que em todos os compêndios
sobre o assunto, se especifica que o alcance máximo das ondas diretas (chamadas
terrestres ) de rádio são de 200 Kms em média.
Mas, uma pequena idéia
surgiu na cabeça e resolvi fazer uma aplicação da mesma:
Peguei o Atlas Geográfico
que o Sarmento colocara a disposição como material de apoio ás nossas escutas e
copiei em uma folha à parte um trecho do litoral á partir do ponto onde
estávamos até Florianópolis, registrando os pontos mais significativos.
Neste artigo, apresento
um desenho similar e um pouco mais bem feito que o original.
Mas, no desenho, fui
plotando os pontos onde poderia existir uma emissora que pudesse ter a escuta
verificada.
Fiz uma relação das
cidades envolvidas no percurso, pesquisei na lista Brasileira de Ondas Médias do
DX Clube do Brasil, relacionando as emissoras referentes á cada cidade do
trecho, e no período entre 1500 e 1800 UTC, fui tentando as escutas e me
surpreendendo com os resultados que apresento em seguida:
Araruama-RJ – 560
KHz – 22/02/2004 – 18:00 - R. Costa do Sol
Rio de Janeiro-RJ – 580 KHz –22/02/2004 - 18:02 - Rádio Relógio Federal
Ubatuba–SP – 1.140 KHz – 22/02/2004 – 16:02 – R. Costa Azul
Caraguatatuba-SP – 670 KHz – 22/02/2004 – 15:03 – R. Oceânica
Guarujá-SP – 1.550 KHz – 22/02/2004 – 17:48 – R. Guarujá Paulista
Santos-SP – 650 KHz – 22/02/2004 – 14:07 – R.News
- 930 KHz – 22/02/2004 – 14:21 – R. Cultura
- 1.240 KHz – 22/02/2004 – 16:17 – R. Clube
Itanhaém-SP – 1.390 KHz – 22/02/2004 – 16:31 – R. Anchieta
Paranaguá-PR – 1.460 KHz – 22/02/2004 – 16:40 – R. Difusora
Guaratuba-PR – 1.540 KHz – 22/02/2004 – 17:46 – R. Litorânea
Florianópolis-SC – 740 KHz – 22/02/2004 – 14:12 – R. CBN Diário
Rio de Janeiro-RJ – 580 KHz –22/02/2004 - 18:02 - Rádio Relógio Federal
Ubatuba–SP – 1.140 KHz – 22/02/2004 – 16:02 – R. Costa Azul
Caraguatatuba-SP – 670 KHz – 22/02/2004 – 15:03 – R. Oceânica
Guarujá-SP – 1.550 KHz – 22/02/2004 – 17:48 – R. Guarujá Paulista
Santos-SP – 650 KHz – 22/02/2004 – 14:07 – R.News
- 930 KHz – 22/02/2004 – 14:21 – R. Cultura
- 1.240 KHz – 22/02/2004 – 16:17 – R. Clube
Itanhaém-SP – 1.390 KHz – 22/02/2004 – 16:31 – R. Anchieta
Paranaguá-PR – 1.460 KHz – 22/02/2004 – 16:40 – R. Difusora
Guaratuba-PR – 1.540 KHz – 22/02/2004 – 17:46 – R. Litorânea
Florianópolis-SC – 740 KHz – 22/02/2004 – 14:12 – R. CBN Diário
Feitas estas escutas,
fiquei deveras surpreendido, pois elas estavam me demonstrando que um paradigma
estabelecido que afirma de modo dogmático que as ondas terrestres tem um alcance
de 200 Kms em média estava caindo por terra.
E esta afirmação estava
caindo por terra sob ass seguintes condições:
- Todas emissoras
captadas estavam na faixa de ondas médias onde a propagação das ondas de
rádio é feita impreterivelmente por ondas terrestres.
- Todas foram captadas no
horário entre 14:00 e 18:00 UTC ( sob Sol). Horário mais que incorreto para
escutas de emissoras de OM de longa distância. Este tipo de escuta é
realizado sob os efeitos na gray line em horário de nascimento ou por do
sol ou ainda na total ausência deste (á noite).
- Desconsiderando as
Rádios Costa do Sol de Araruama e Relógio Federal do Rio de Janeiro que
estavam dentro das condições apregoadas pela “lei” dos 200 Kms, a mais próxima
das emissoras ( R. Costa Azul de Ubatuba-SP) estava a aproximadamente 390 Km em
linha reta e a mais distante (R. CBN Diário de Florianópolis-SC) estava a
praticamente 1000 Km em linha reta. Para fazer as medições de distância eu
“fabriquei” uma régua em papel, plotando a escala do mapa. As distâncias podem
não ser exatas, mas o erro introduzido pelo meu instrumento improvisado de
medição fornecia uma margem muito pequena para ser considerado como
significativo em relação ao valor absoluto das distâncias envolvidas.
- As antenas das
emissoras de Ondas Médias, pelo menos no Brasil, são sempre do tipo
Omnidirecionais, utilizando a própria torre suporte como antena de transmissão e
deste modo são antenas que oferecem um ângulo bem obtuso de transmissão, não se
permitindo a realizar uma transmissão via reflexão ionosférica e além do mais
para permitir a execução de um “ricochete” numa camada á tal distância
permitindo o retorno do sinal a um ponto entre 390 e 1000 Km da origem, deveria
ser uma antena direcional de ângulo agudíssimo, o que torna a realização
totalmente improvável.
Voltou-me a mente a
conversa do dia 20 sobre os dias de chuva bons para a escutas, a influência da
umidade relativa...
Trocando idéias com o
Sarmento Campos, verificamos que o fenômeno se tornava ainda mais marcante, nas
proximidades da praia.
As nossas escutas foram
feitas na casa dos familiares do Sarmento, distante aproximadamente 300 metros
da praia e fomos até a orla marítima, levando o meu Sony 7600 GR e verificamos
que lá ele poderia ser utilizado com um verdadeiro radiogoniômetro. E isso
somente com o rádio na mão , girando e captando pela antena de ferrite interna
as mais diferentes estações das mais diferentes direções.
Sabemos que a água
tende mais para ser isolante que condutor (graças a Deus, pois senão as
resistências dos chuveiros teriam que ter um isolamento elétrico para segurança
dos usuários).
Mas acontece que o sal é
um maravilhoso condutor elétrico e ele está presente numa boa proporção (muito
boa para nós radio escutas) na água do mar (Isso no oceano Atlântico, pois no
Mar morto esta salinidade é muito maior e provavelmente o fenômeno será muito
maior naquela região.) Tal como as Ondas Longas são ainda utilizadas nas
comunicações por submarinos, as ondas médias sofrem uma influencia muito
benéfica em termos de alcance nas regiões litorâneas. Isso eu comprovei pela
experiência. Foi o mar que me trouxe aquelas emissoras.
Bem amigos, está foi uma
comprovação real das benesses que um espelho d’água pode fornecer à radio
escuta.
Acredito que os espelhos
d’água próximos a represas de rios ofereçam também situações semelhantes, mas o
grau de intensidade do fenômeno será bem menor devido a baixa condutividade da
água doce ( que conduz parcialmente através dos sais minerais dissolvidos em seu
conteúdo sendo um líquido com muito menor condutividade que a água do mar).
Mas, mais gostoso que
passar esta experiência para o papel, foi verificar ponto a ponto a recepção de
cada estação, em OM, e cada uma num ponto mais distante do local da escuta e num
horário muito improvável para este trabalho. Foi realmente muito agradável, ao
invés de fazer uma escuta e tentar identificar a estação; determinar a cidade,
escolher a estação, sintonizar a freqüência e escutá-la muito bem, comprovando a
teoria pretendida. Eu estava realizando um processo inverso ao que nós radio
escutas fazemos.
Tenho certeza que não sou
o “pai da criança” pois muita gente já deve estar utilizando este recurso com
grande intensidade. O que estou fazendo, somente, é divulgá-lo de modo mais
intenso, não técnico, mas como resultado de experimentação realizada com
resultados comprovados.
Pena que em Minas não tem
mar...
Um abraço a todos,
Engenheiro Adalberto Marques de Azevedo - Barbacena / Minas Gerais
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